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A Segunda Revolução Industrial e o Imperialismo

    A Europa na segunda parte do século XIX passou por uma nova etapa de industrialização, denominada de Revolução Técnico-Científica ou Segunda Revolução Industrial.  Se a primeira Revolução Industrial ocorrida entre o século XVIII e meados do XIX ficou restrita ao continente europeu, caracterizou-se pelo uso de fontes de energia como carvão mineral e vegetal, de materiais como o ferro e pela invenção da máquina a vapor, a segunda fase do processo de industrialização expandiu dentro da Europa e para outras continentes, e inaugurou o surgimento de novas fontes de energia, materiais e maquinários.
     As invenções científicas desenvolvidas pelo conhecimento das ciências ditas exatas, como a química e a física, passaram a serem aplicadas no processo de produção industrial - por isso a Segunda Revolução Industrial também ser chamada de Revolução Técnico-Científica ou Científico-Tecnológica. Neste novo cenário as antigas fontes de energia, materiais e maquinários foram sendo substituídas pelos novos, como o petróleo, a eletricidade, o aço e o motor a combustão. As inovações implicaram no aumento exponencial da produção e na criação de novos ramos de atividades industriais.  De acordo com o historiador Nicolau Sevcenko:
“Apesar de ser comumente denominada de “segundo momento da industrialização”, a Revolução Científico-Tecnológica na realidade é muito mais complexa, ampla e profunda do que um mero desdobramento da primeira, como o nome poderia sugerir. Ela representa de fato um salto enorme, tanto em termos qualitativos quanto quantitativos, em relação à primeira manifestação da economia mecanizada. Resultando da aplicação das mais recentes descobertas científicas aos processos produtivos, ela possibilitou o desenvolvimento de novos potenciais energéticos, como a eletricidade e os derivados de petróleo, dando assim origem a novos campos de exploração industrial, como os altos-fornos, as indústrias químicas, novos ramos metalúrgicos, como os do alumínio, do níquel, do cobre e dos aços especiais, além de desenvolvimento das áreas de microbiologia, bacteriologia e da bioquímica, com efeitos dramáticos sobre a produção e conservação de alimentos, ou na farmacologia, medicina, higiene e profilaxia, com um impacto decisivo sobre o controle das moléstias, a natalidade e prolongamento da vida” (SEVCENKO, 1998.p.8-9).


Primeira Revolução Industrial – Século XVIII a meados do XIX
Segunda Revolução Industrial – Segunda metade do século XIX a meados do XX
Localização
Inglaterra
Europa, Estados Unidos e Japão.
Fontes de energia
Carvão mineral e vegetal
Petróleo, eletricidade
Tipo de material industrial
Ferro
Aço, alumínio, níquel, cobre.
Maquinário
Máquinas a vapor
Máquinas movidas a motores de combustão interna ou elétricos
Transportes
Trem e navio a vapor
Aviões, automóveis, bondes elétricos

      Além destas criações científicas e técnicas aplicadas ao campo da produção industrial, emergentes entre o final do século XIX e início do XX na Europa e nos Estados Unidos, neste contexto surgiram uma série de inovações tecnológicas na área dos transportes e das comunicações. Um testemunho da época, nascido na França, chamado Raymond Loewy, assim relatava o conjunto de inovações tecnológicas criadas no contexto:
“Estando com apenas catorze anos, em Paris, onde nasci, eu já tinha visto o surgimento do telefone, do aeroplano, do automóvel, da eletricidade doméstica, do fonógrafo, do cinema, do rádio, dos elevadores, dos refrigeradores, do raio X, da radioatividade e, ademais, da moderna anestesia” (SEVCENKO, 1998.p.10).
      Outra característica da Segunda Revolução Industrial foi o surgimento de grandes empresas monopolistas e a fusão do capital das indústrias ao capital financeiro. As atividades econômicas industriais e comerciais até meados do século XIX eram desenvolvidas por pequenas e médias empresas, dirigidas por famílias e utilizavam seus lucros para reinvestir em novos projetos e empreendimentos. A partir deste novo contexto de industrialização ocorreu um processo de concentração de capitais, com a formação de monopólios, oligopólios, cartéis, trustes e holdings empresariais, que eliminavam os pequenos e médios produtores; as grandes empresas passaram a serem constituídas sob uma nova forma de propriedade e organização, como sociedades anônimas, ofereciam ações em bolsas de valores, passaram também a trabalhar com empréstimos bancários para novos investimentos, o que resultou na fusão entre indústrias e bancos, fenômeno que inaugurou uma nova fase do capitalismo - o capitalismo financeiro.
       Os conglomerados econômicos constituídos procuraram por investimentos lucrativos, fontes de matérias-prima como petróleo, carvão mineral e ferro, mão de obra barata e mercados consumidores para os produtores industrializados fora da Europa e dos Estados Unidos. A concentração de capitais nas mãos dos grupos empresariais dominantes levou o crescimento do poder destes sobre a administração e instituições dos Estados nacionais.
“Foi essa ampliação na escala das demandas e das exportações que gerou o fenômeno conhecido como neocolonialismo ou imperialismo, que levou as potências industriais, na segunda metade do século XIX, a disputar e dividir entre si as áreas ainda não colonizadas do globo ou a restabelecer vínculos de dependência estreitos com áreas de passado colonial” (SEVCENKO, 1998.p.12).
    Neste contexto da Segunda Revolução Industrial territórios do continente africano, asiático e da Oceania foram transformados em colônias das potências industriais europeias. Tal ação configurou o fenômeno político e econômico denominado pela historiografia de Imperialismo ou de Neocolonialismo, marcado pela hegemonia das potências européias, que passaram a ocupar, dominar e a explorar economicamente territórios de sociedades tradicionais. De acordo com Kalina Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva: 
“O período entre 1870 e 1914 esteve, dessa forma, associado à expansão do capitalismo monopolista, à conquista política e militar de territórios e ao auge do imperialismo sobre o mundo, com a partilha da África. Quase todo o mundo, com exceção da Europa e da América, foi dividido em territórios dominados por potências como a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha e, mais tarde, os Estados Unidos e o Japão. Essa divisão respondeu à busca por novos mercados empreendida simultaneamente pelo capital monopolista de diferentes economias, que se confundiam com os próprios governos nacionais, gerando assim rivalidade entre as potências. O próprio status de potência estava associado à posse do maior número possível de territórios dominados e se tornou por si só razão política para a expansão” (SILVA; SILVA, 2006.p.218-219).

ANTIGO SISTEMA COLONIAL - Séculos XV-XIX
NEOCOLONIALISMO - Séculos XIX-XX
Principais países colonizadores
Espanha, Portugal e Inglaterra.
Inglaterra, França, Bélgica, Holanda e Itália.
Territórios colonizados
Américas e a costa africana.
Continente africano, continente asiático e a Oceania.
Finalidade da colonização
Extração de metais preciosos (ouro, prata), produção de produtos agrícolas através do sistema de plantation, cristianização das sociedades nativas.
Extração de minérios, fontes de energia (petróleo), ampliação do mercado consumidor e mão de obra barata, missão civilizatória das sociedades colonizadas.
Formas dominantes de colonização
Presença dos colonizadores europeus, controle político da Metrópole sobre a colônia, controle da produção e da comercialização.
Estabelecimento de protetorados.


Movimentos de luta e resistência contra o neocolonialismo na Ásia e na África.


  • ·         Levante indiano ou Guerra dos Sipaios de 1857-1858.

  • ·         Guerrilha dos Berberes contra os franceses entre 1834-1837.
  • ·         Levante argelino de 1871.
  • ·         Rebelião Ashanti de 1896.

  • ·         Movimento nacional egípcio de 1879-1882.
  • ·         Revolta Maji-Maji – 1905-1907.

  • ·         Rebelião Tai-Ping na China de 1850-1866.

  • ·         A guerra dos Boxers na China – 1899-1890.

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